sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Do arrojado machismo

O Bloco de Esquerda não devia exigir desculpas ao senhor que no Porto Canal nos fez soltar francas gargalhadas, vindas daquele sítio onde personagens como Diácono Remédios as arrancavam deliciosamente.
O mestre humorista sabe que nos rimos das caricaturas, de algo parecido com o que existe na realidade mas com alguns traços exagerados. Todos conhecemos Diáconos Remédios mais ou menos simpáticos mas a sua personagem concentra exageradamente as características que nos permitem agrupar num só os vários tipos de falsos e pidescos moralistas. A caricatura permite assim tornar visível ou destacar o que poderia dissimular-se nas práticas e vivências quotidianas dos pequenos ou grandes diáconos remédios com que vamos lidando ao longo da vida.
Pedro Arroja, na sua intervenção televisiva sobre as deputadas do BE, faz soltar uma gargalhada porque todo o discurso encarna a caricatura do machismo presente na nossa sociedade. E ninguém está à espera que uma pessoa de verdade se transforme numa caricatura, apesar dos tempos particulares que vivemos nos surpreenderem com grandes, e quiça dramáticas manifestações nesta área. Pedro Arroja não é um sucedâneo, é um objeto pedagógico que nos chega de forma livre e genuína. 
O BE, por isto, devia agradecer esta intervenção. Podemos andar a discutir o assédio (com debates sobre o piropo), a lutar contra grupos de direita que, à sorrelfa, fazem passar uma lei sobre aconselhamento obrigatório à mulher que pretenda interromper a gravidez, podemos alertar para as centenas de comentários misóginos e violentos sobre uma ação de denúncia numa barbearia, mas nada é tão claro e transparente para compreender o que é isso do machismo como um discurso com este gabarito.
Devia defender-se, desde já, a inclusão nos curricula escolares o visionamento deste discurso quando se ensinam as discriminações presentes no passado e presente, nas aulas em que se discute cidadania, racismo, machismo, homofobia. Perante os compromissos internacionais que o país estabeleceu, se não fosse por nós próprios, é uma obrigação fazê-lo. Estamos obrigados, como a pagar a dívida, nos Tratados Europeus que subscrevemos, a defender e a promover políticas ativas de combate à desigualdade, a económica, social, e de todas, em especial, a desigualdade entre homens e mulheres.

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